O som violento do violino serviu como música de fundo naqueles últimos segundos. Ele era iluminado pelas fagulhas e não era interrompido pelo estampido.
Fui caindo, caindo e caindo. Juntamente com a toalha de mesa que puxara e a louça que estava em cima dela. O prato de desenho francês estilhaçou-se no chão.
O baque de meu corpo contra o chão foi seco, frio e violento. Quase tão violento quanto quem puxara a arma.
Ela correu até mim, lágrimas brotando. O rosto em formato de coração, de maçãs salientes e lábios finos, estava sujo.
Não tivera tempo para se limpar desde nossa última fuga, em Bristol. Agora estávamos em Ogrement, no distrito de Epinay, na França. Não sei como esses animais sedentos por sangue nos acharam.
Uma lágrima caiu em minha bochecha, seu rosto triste me fitava com tristeza. Dava para sentir a preocupação que ela emanava. Seu lábios desceram até os meus, o seu beijo cálido lembrou-me de tudo que passamos juntos, de nosso primeiro encontro até o momento presente.
O som do violino não havia parado, continuava firme e forte mesmo diante da cena que ocorria.
Um segundo estampido, agora mais forte, soou.
Senti a dor que ela sentira, a dor da bala rasgando a carne. O ardor, a tristeza de pensarmos que tudo durou tão pouco.
Seu corpo caiu sobre o meu, ela rolou para o lado, virou seu rosto e sussurrou com o resto de força que tinha: "Não me deixe sozinha."
Apertei firme sua mão, um terceiro estampido soou e agora o som do violino parara, sendo substituído pelo o estilhaçar do instrumento ao cair no chão e o baque do corpo do violinista.
O atirador veio para perto de mim, olhou em meus olhos e disse : "Fim."
Fechei os olhos e aguardei uma parte do que seria o estampido final. O estampido da bala que tiraria a minha vida e me tiraria de minha amada .
Estúpido atirador e estúpida arma. Odiei quem a criara.
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