Tô transando bem?

domingo, 7 de outubro de 2012


Há demônios ao teu redor. Cuida-te, garota! Não vá te render aos encantos. Não há nada que possa te salvar agora, há apenas tu. E os demônios.

Eles cochicham ao teu ouvido, dizem coisas atrativas. Clamam por teu nome. Não te deixes levar, garota minha, te rogo.

Os demônios te rodeiam. Tu choras e até tentas gritar por ajuda, mas não estou em condições de ajudar. Desculpe.

Aguenta firme, uma hora tua liberdade chega. Só não te deixes ser levada. Veja, eu não quero você. Eu quero você. Agora quem chora sou eu.

Não consigo te tocar, apenas te rodeio. Antes do amanhecer, tu serás minha, serás minha garotinha.

Vejo-te parada no meio da sala, com um redemoinho de vozes negras a fazer vento em teus longos cabelos. Tu és uma bagunça com esses cabelos. Mas te mantenhas forte, antes da noite acabar, tu serás minha. Tu queres saber o por quê?

Demônios estão a te rodear. Eu estou a te rodear.

Entre os lábios.

Ela olhou para o homem de meia-idade algemado na cama, dando um sorriso nojento e malicioso. O cabelo grisalho ( ou resto dele) estava bagunçado, alvoraçado. Ele apenas trajava um cueca branca, modelo tradicional, e sua barriguinha de cerveja.

A mente da jovem apenas berrava "CENA NOJENTA, CENA NOJENTA, CENA NOJENTA..." e assim persistia, mas ela se concentrou no que tinha de fazer. Aproximou-se da cama, tirou a cueca do urso careca e velho e segurou-se para não rir, pensando em coisas sérias como a saudade que tinha de sua vida normal e do tempo que morava com seus pais.
Ela olhou aquela pobre coisa molenga que estava no meio das perna do algemado e quase sinalizou um sinal negativo com a cabeça.

Sentiu pena, deu meia-volta na cama, pegou as pílulas azuis e enfiou na boca do urso careca. Em seguida voltou para os pés da cama, de pé. Parou um minuto para analisar o quarto escuro, o papel de parede vinho com desenhos arabescos, o tapete de couro de vaca, o abajur espanhol, a cama de mogno e um aparelho de som junto com a televisão no deck de madeira. Um tanto chique, diria se aquele homem não estragasse todo o ambiente com sua feiura e se não cortasse seu pensamento com um "Anda gatinha, vem pro papai".

Ela subiu na cama, deslizou o zíper lateral do vestido preto de franjas, solto o coque alto de madeixas negras. O cabelo preto, quando solto, contrastou com sua pele clara feito neve e seus olhos castanhos, os longos cílios adornavam os olhos. O corpo de uma Vênus de Milo estava coberto com apenas uma lingerie preta de renda bordada a mão e decorado com jóias, como o colar cascata de diamantes e seu anel de pérola negra.
O urso olhava assustado para toda aquela exuberante beleza, ela sorriu com um sorriso de falsa malícia, totalmente forçado.

Ela sentou-se sobre a barriga dele, não sabendo como iria se equilibrar ali. O urso usava um palavreado chulo e ela ouvia sem mudar a expressão, totalmente fria.
"Venha doçura, vou te fazer gemer como se quisesse morrer de desejo".
O estômago da garota se revirou de nojo da frase e do perfume amadeirado daquele homem asqueroso.
Ela desceu os lábios até o ouvido dele e disse "Você que irá gemer, meu amor...", a frase estava inacabada.
Ele iria responder a ela, mas a garota colocou o dedo nos seus lábios, sinalizando para que não falasse. Ele fechou os olhos, desejoso. Algo entre as pernas dele começara a se mover. Era um cena nojenta.
Com o dedo nos lábios dele, mandou que os abrisse, e com a mão direita puxou a arma que estava em suas costas, na calcinha. Era uma Glock.
Pegou a arma, colocou entre os lábios do homem e fechou os olhos. Sentia que a vingança estava chegando ao fim.
Puxou o gatilho, miolos cobriram o travesseiro de penas de ganso.
O estampido ecoou pelo quarteirão.
A liberdade da garota ecoou pelo resto da sua vida, que agora realmente será sua.
A garota que agora será dona de si.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O som do violino.

O som violento do violino serviu como música de fundo naqueles últimos segundos. Ele era iluminado pelas fagulhas e não era interrompido pelo estampido.

Fui caindo, caindo e caindo. Juntamente com a toalha de mesa que puxara e a louça que estava em cima dela. O prato de desenho francês estilhaçou-se no chão.

O baque de meu corpo contra o chão foi seco, frio e violento. Quase tão violento quanto quem puxara a arma.

Ela correu até mim, lágrimas brotando. O rosto em formato de coração, de maçãs salientes e lábios finos, estava sujo.
Não tivera tempo para se limpar desde nossa última fuga, em Bristol. Agora estávamos em Ogrement, no distrito de Epinay, na França. Não sei como esses animais sedentos por sangue nos acharam.

Uma lágrima caiu em minha bochecha, seu rosto triste me fitava com tristeza. Dava para sentir a preocupação que ela emanava. Seu lábios desceram até os meus, o seu beijo cálido lembrou-me de tudo que passamos juntos, de nosso primeiro encontro até o momento presente.

O som do violino não havia parado, continuava firme e forte mesmo diante da cena que ocorria.
Um segundo estampido, agora mais forte, soou.
Senti a dor que ela sentira, a dor da bala rasgando a carne. O ardor, a tristeza de pensarmos que tudo durou tão pouco.

Seu corpo caiu sobre o meu, ela rolou para o lado, virou seu rosto e sussurrou com o resto de força que tinha: "Não me deixe sozinha."
Apertei firme sua mão, um terceiro estampido soou e agora o som do violino parara, sendo substituído pelo o estilhaçar do instrumento ao cair no chão e o baque do corpo do violinista.

O atirador veio para perto de mim, olhou em meus olhos e disse : "Fim."
Fechei os olhos e aguardei uma parte do que seria o estampido final. O estampido da bala que tiraria a minha vida e me tiraria de minha amada .
Estúpido atirador e estúpida arma. Odiei quem a criara.




quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Saudade da morena tímida


Saudade de você. 
Do riso que faz cócegas em minha garganta, do sorriso que me dá comichões, do olhar rápido e em seguida desviado.
Saudade de você, morena.
Saudade de te ver, só o fato de te ver acabaria com a saudade.
Se bem que preciso da tua voz.
Fina, calma e suave. Nada de esganiçada (caso você pense isso).
Saudade até dos pelinhos do teu braço e da tua mania de esconder.
Se estiver contigo, até compro um dinossauro pra tua coleção.
Menina tímida, morena menina.

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Fernando Simão

terça-feira, 2 de outubro de 2012

"Despolemizando" a polêmica.

Em menos de uma hora recebemos de 5 a 10 e-mails falando (falando é forma amenizada de se dizer xingando e argumentando, neste caso) sobre o meu último escrito publicado, "A morena amante de dinossauros não é fria, ela só quer achar o certo".

Caros leitores, é óbvio que se escrevi este texto para alguém, a pessoa notou. Ou até mesmo se identificou com o que fora escrito.
Mas isto não é motivo para tanta alarde, não estou correto?
Vejo que criaram um monstro dos 7 mares sobre meu texto, mas ele nem é tão grande coisa. Foi algo apenas superficial, digo e assumo.

Se quiserem falar sobre algo mais sobre tal texto, entrem em contato. Os tratarei com as mesma educação a qual uso para escrever agora.

Em espera de alguns e-mails e outras coisas mais,
  Fernando Simão.